7 de mar. de 2016

Engenho Gongaçary é joia rara esquecida em Igarassu

                 Capela é um dos monumentos do engenho / Sérgio Bernardo/JC Imagem

                           Capela é um dos monumentos do engenho

                           Sérgio Bernardo/JC Imagem



Do JC Online
O antigo Engenho Gongaçary é o que se pode chamar de desperdício de oportunidades. Trata-se de um conjunto arquitetônico secular, com capela e senzala originais, localizado às margens do Rio Timbó e a sete quilômetros do mar, no município de Igarassu, no Grande Recife. Um local que mistura edificações históricas, vegetação litorânea e manguezais poderia se transformar um atrativo ponto turístico. Mas, esquecido e sem projeto de revitalização, hoje é apenas um espaço ocioso e sem qualquer atividade.

O primeiro registro histórico do engenho de açúcar é de 1595. O local fazia parte da Sesmaria Jaguaribe, área doada pelo donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, ao administrador Vasco Fernandes, em 1540. Durante a Revolução Praieira, já no século 19, o Engenho Gongaçary foi palco de pelo menos dois embates entre as tropas legalistas e revoltosas. Foi desativado como produtor de açúcar no início do século 20, e adquirido pela empresa Votorantim em meados da década de 1950.

O acesso é complicado. Do quilômetro 47 da BR-101 Norte, em Igarassu, até a porteira do engenho, são 4,2 quilômetros em uma estrada de terra bastante irregular, por onde, na maior parte do trecho, apenas um veículo pode passar. Mas quem vence o festival de solavancos ganha de presente uma vista dessa parte da história de Pernambuco conhecida por pouquíssimas pessoas.

O local faz parte da região estuarina do Rio Timbó, uma Área de Preservação Ambiental (APA) instituída em 1986 pelo então governador Gustavo Krause. Ao todo, são 11 imóveis, mas somente a capela e as casas onde funcionavam as senzalas são edificações originais do século 16. “A casa-grande foi destruída em 1915 e as outras construções datam das primeiras décadas do século 20”, conta o pesquisador Jorge Barreto, especialista em história de Igarassu.

A capela está em situação mais crítica e precisa de reparos urgentes. Não há mais bancos, os sinos foram roubados e rachaduras e infiltrações ameaçam a estrutura . O prédio onde funcionava a senzala foi, até o fechamento do engenho, nos anos 1990, escritório da empresa proprietária do local. Ainda se vê papéis da companhia espalhados pelo chão. Numa descida rápida em direção ao rio, um outro espetáculo: o da natureza. De um lado, um enorme viveiro – desativado – de peixes. Do outro, o Rio Timbó. Ninguém frenquenta a área. Nada se ouve no lugar além do barulho do vento. 

A Câmara de Vereadores de Igarassu tenciona votar, até o final do ano, projeto de lei do Executivo municipal que prevê o tombamento do Engenho Gongaçary. “É a única forma de preservarmos o que restou”, comenta o historiador Jorge Barreto. O diretor do Instituto do Patrimônio Histórico a Artístco Nacional (Iphan) em Igarassu, Fábio Torres, explica que a área do engenho fará parte de um roteiro histórico a ser criado pelo órgão em parceria com a prefeitura. 

Por meio de nota, a Votorantim informa que “as áreas de preservação de patrimônio histórico e cultural são protegidas pela União e, respectivamente, pelos governos federal, estadual e municipal”. Não há plano específico para o antigo engenho, mas a empresa afirma desenvolver projetos sociais com as comunidades do entorno. Do outro lado da margem do Rio Timbó, o grupo empresarial mantém em funcionamento a segunda fábrica mais antiga do grupo: a do cimento Poty, em operação desde 1942.

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